REVIEW | S.T.A.L.K.E.R. 2: Heart of Chornobyl é um retorno brutal e autêntico
Atmosfera e caos estão supremos
Há uma história aqui, cheia de reviravoltas, mas não vou entrar nisso agora. Minha preocupação era que, depois de tanto tempo, S.T.A.L.K.E.R. 2 perdesse o que tornava o original tão especial.
Isso porque é um jogo que tem tudo que se espera da franquia: desafiador, depressivo e, por vezes, uma jornada lindamente miserável pelo inferno pós-apocalíptico.
Já vimos isso antes: uma franquia amada volta com mais orçamento, mais visibilidade, e perde o essencial. Talvez seja o excesso de polimento ou a falta de alma. Felizmente, esse não é o caso aqui.
A Zona te sufoca em uma tensão constante, um peso atmosférico que gruda na pele e não te deixa fugir
A atmosfera pós-nuclear? Está lá. A Zona é como um poema de desgraça: bela e brutal. Cada raio de sol, cada tempestade, cada floresta densa. A beleza do caos. Gente da Ucrânia até o Reino Unido se juntou aqui, e tudo isso cria uma vibe onde você não sabe se ama ou odeia o que está acontecendo ao seu redor.
Sem brilho desnecessário, sem simplificações, sem distrações chamativas. S.T.A.L.K.E.R. 2 é um jogo que não pega leve, que obriga você a prestar atenção e se adaptar. E isso é incrível.
Sobrevive aqui ainda é perigoso
Claro, S.T.A.L.K.E.R. 2 tem suas bagunças, seus momentos frustrantes, seu caos estranho. Mas quem jogou o original sabe que isso faz parte do pacote. Agora, é mais intenso.
Mais bugs, mais problemas de áudio, mais falhas. Texturas piscando, personagens travados, falhas que quebram a imersão. NPCs que de repente falam como se estivessem ao seu lado, sem o efeito de rádio.
Esperei por uma grande atualização que resolvesse os problemas. Embora melhorias estejam chegando, ainda há muito a ser corrigido. Portanto, pode ser melhor esperar antes de mergulhar de cabeça.
Afinal, há muitos jogos disputando seu tempo e dinheiro, e gastar com um produto ainda inacabado pode ser complicado. Alguns vão encarar, outros não. Nosso papel aqui é avisar.
O peso do realismo
Vamos ser honestos: esse jogo não vai conquistar novos fãs. Se você não curtiu os antigos, esqueça. S.T.A.L.K.E.R. 2 não faz concessões para te agradar. Usa o mesmo sistema de inventário, os mesmos efeitos sonoros, a mesma lógica brutal dos itens de cura.
Munição? Sempre pouca. Carne processada? Você come tanto que devia estar tendo um derrame. E os bugs? Ah, eles também estão de volta, firmes e fortes. Personagens voando, missões quebradas, sons desaparecendo do nada. É o velho S.T.A.L.K.E.R., com todos os defeitos que fazem a experiência ser tão crua quanto você espera.
Apesar dos problemas, há algo grandioso em S.T.A.L.K.E.R. 2. Um enorme sandbox de sobrevivência e exploração de horror, com a Zona agora totalmente explorável, um mundo aberto.
Brutal, desafiador, imersivo. Você é um stalker, um aventureiro que se arrisca na versão fantasiosa da Zona de Exclusão de Chernobyl em busca de lucro. Um território sem lei, facções disputando artefatos raros e recursos. Você é um novato, com motivos pessoais para entrar nesse caos. E, logo de cara, se vê numa introdução que te desafia a continuar.
Supere a introdução, sinta a frustração, e talvez o jogo seja para você. Aqui não há um guia amigável, só a necessidade de observar e persistir. Missões, exploração, saques, sobrevivência. Coma para manter sua capacidade de combate.
Use bandagens para parar sangramentos. Beba vodka para reduzir a radiação. Não há abstração, cada detalhe conta. Seu inventário é apertado e cada escolha importa. Encontrar artefatos raros é vital: eles trazem vantagens, mas sempre com um custo.
Seu equipamento se desgasta. Precisa ser consertado, ou vai quebrar na hora errada. Uma arma falhando no meio de um tiroteio pode ser seu fim. O horror da sobrevivência aqui é real: falta munição, falta espaço no inventário, falta o que você precisa na hora.
E os inimigos são brutais, os monstros também. Estar preparado faz a diferença. Melhorar suas armas, armaduras e artefatos traz aquela sensação de progresso que faz tudo valer a pena.
Narrativa fragmentada e com altos e baixos
Você joga como Skiff, um cara que se vê nas periferias da Zona com um scanner para realizar uns testes. Mal começa e já está sendo perseguido pela “Ward”, uma nova força de autoridade.
E aí, desanda um pouco. Uma missão atrás da outra Às vezes parece que vai engrenar, mas logo desacelera. Missões intermináveis, escolhas que pesam pouco e a sensação constante de que você está aqui, contudo sem um objetivo claro.
Aqui vou ter que ficar em cima do muro, pois depende muito do seu estilo de jogo. Se você gosta de fazer o que bem entender, como em Fallout, vai se sentir em casa. Entretanto, se espera algo mais amarrado, vai ficar chupando o dedo.
Enquanto a maioria das narrativas com escolhas te diz o que é certo e errado, S.T.A.L.K.E.R. 2 joga isso fora, deixando você fazer o que quiser, do jeito que achar melhor
Mesmo as missões secundárias, que deveriam construir o mundo ao redor, raramente oferecem recompensas que valem o esforço. A exploração não fica muito atrás. Artefatos, tão centrais à franquia, parecem ter sido nerfados ao ponto de se tornarem inúteis. Você se arrisca nas anomalias, joga seus parafusos para não virar pó, mas a recompensa é mínima.
A radiação sobe, a tela fica turva, e você se pergunta: por que diabos estou fazendo isso? Mesmo assim, a Zona, com seus efeitos climáticos e ambientes opressivos, continua sendo o ponto alto. Cada casa abandonada, cada caverna escura, ainda traz aquela tensão que te faz hesitar antes de entrar.
O combate não é indulgente
Você não é rápido, isso não é Call of Duty. Cada tiro necessita ser preciso. Humanos, criaturas irradiadas, tanto faz: qualquer um pode acabar com você em segundos. Os tiroteios são barulhentos, agressivos, sem muitas indicações visuais.
Não há superpoderes aqui, é você e seus sentidos. Enxergar um inimigo escondido no escuro, perceber um movimento na vegetação, tudo é uma questão de vida ou morte. Correr, se esconder, disparar mais um pouco, torcer para sobreviver. Cada decisão é uma aposta desesperada.
O mundo é imprevisível. A Zona é ao mesmo tempo bela e cruel. Um lugar fascinante de forma brutal. Efeitos climáticos, árvores balançando, poças irradiadas. As tempestades são impressionantes, e cada edifício abandonado esconde segredos.
Não tem nada de glamour aqui, é você contra o mundo, usando tudo o que encontra. Mas parece que os mutantes receberam esteroides: cada criatura, de cães a bloodsuckers, parece ser mais teimosa e resistente do que deveria.
Eles te derrubam, te jogam no chão, e fazem isso de novo e de novo até te destruir. Não há inteligência nos ataques, só ferocidade cega.
Você vai ser surpreendido
Tudo foi feito à mão, artesanalmente, e você sente isso. Explorar, encontrar cavernas escondidas, bases de saqueadores, segredos em cada canto. Isso é o que torna o jogo único.
Os personagens jogam missões secundárias em você como quem joga ossos para um cachorro faminto. Você sempre quer aquele loot extra, quer se sentir mais poderoso, mais confiante para ir mais fundo na Zona.
Lembra de The Witcher 3? Lembra dos jogos da Bethesda? Aquela sensação de descoberta constante está aqui, mas o perigo nunca sai de cena. As anomalias são um desafio constante. Parte da diversão é observar e tentar descobrir se uma poça de água ou um monte de folhas vai te matar.
Um momento está tudo calmo, no seguinte um tiro atravessa o ar e você cai. Talvez seja um inimigo em um ghillie suit. Talvez ele não esteja mais lá quando você recarregar o save.
O mundo muda, eventos surgem do nada. Nunca dá para prever o que vai acontecer. Isso é o que torna a exploração interessante, mesmo que, às vezes, seja um pouco desequilibrada.
O game sofre com atuações vocais fracas no início, que quebram a imersão, mas elas melhoram muito conforme a trama avança
Vale a pena jogar S.T.A.L.K.E.R. 2: Heart of Chornobyl?
S.T.A.L.K.E.R. 2: Heart of Chornobyl é um jogo de 2007 vestido em gráficos de 2024. Parece um tributo teimoso ao passado, recusando-se a evoluir onde mais precisava. A narrativa é arrastada, o combate é uma mistura de tensão e frustração, e a exploração é uma ode à inutilidade dos artefatos.
Os fãs antigos vão apreciar o retorno à Zona e as referências aos jogos antigos, mas novos jogadores vão se perder no meio da escuridão. É um jogo que te faz correr, literalmente, por quilômetros, gastando energia e tempo, muitas vezes sem recompensa. E falo isso para deixar claro a todos, pois há quem goste e quem odeie. Eu amo.
É verdade que há detalhes que deveriam ter sido resolvidos antes do lançamento, sem dúvida. Mas mesmo assim, há algo autêntico em S.T.A.L.K.E.R. 2. Tive momentos de frustração, mas também tive momentos de diversão pura.
Se o início não te derrubar, você vai gastar horas nesse jogo.
A missão principal leva cerca de 40 horas, porém o mundo é grande, cheio de missões secundárias, e se você jogar devagar, há muito o que fazer. Há escolhas a fazer, múltiplos finais. Eu respeito demais o fato de que os desenvolvedores não tentaram transformá-lo em um blockbuster brilhante. S.T.A.L.K.E.R. 2 é cru, é autêntico. Tem ar de obra-prima.
Se você está lendo isso, provavelmente sabe o que está fazendo. Então faça sua pesquisa. Não leia só um review, leia outros, veja vídeos. Certifique-se de que sabe no que está se metendo, porque o jogo ainda está no forno.
Ainda assim, não dá para ignorar o contexto. Uma pandemia, uma guerra, tudo isso poderia ter matado o projeto, e não matou. S.T.A.L.K.E.R. 2 existe, mesmo cheio de falhas, e ainda tem algo de original, algo que poucos jogos conseguem.
É um pedaço ainda quebrado, mas verdadeiro e em processo corretivo, da Zona. Se isso é o suficiente para você, então boa sorte. Se não, pode passar longe até corrigirem a maioria dos problemas. Como dizem, “sai daqui, stalker”.
Prós