REVIEW | Dragon Age: The Veilguard é uma promessa inacabada, mas com bons momentos

REVIEW | Dragon Age: The Veilguard é uma promessa inacabada, mas com bons momentos

Combate: o show de apertar botões e estratégias

O combate é uma briga de bar das boas. É intenso, satisfatório e, acima de tudo, viciante. Os golpes têm peso, os bloqueios te fazem sentir invencível por dois segundos, e esmagar Darkspawn, Venatori e seguidores de deuses élficos é uma terapia de adrenalina que não sabíamos que precisávamos.

Cada habilidade desenvolvida para os personagens pela Bioware parece ter sido criada para te fazer sentir como o herói de uma novela épica — até que você morre porque esqueceu que existe algo chamado estratégia.

Encare as dificuldades mais altas
e o jogo para de ser sobre espadas e magia

No nível mais fácil, você é o mestre do botão atacar até dar certo, ao estilo dos God of War antigos. Suba a dificuldade e, de repente, está analisando o campo como um general da Antiguidade.

Por isso, usar os companheiros para explodir inimigos com combos é tão gratificante quanto encontrar uma moeda perdida no sofá. Cada novo item ou habilidade grita: vem cá, me experimenta! — e você experimenta, porque como resistir a um anel que te dá bônus aleatórios quando você derruba um inimigo atordoado?

Imagem: Reprodução/EA Bioware

As árvores de habilidades de Dragon Age: The Veilguard são como um canivete suíço: pequenas, cheias de opções e capazes de salvar sua pele se você souber como usá-las.

Cada ponto que você gasta não é só um upgrade e sim uma possibilidade de que você pode virar a maré contra qualquer inimigo, desde que tenha o plano certo. Guerreiros esmagam, Magos queimam, Ladinos cortam — e você escolhe como transformar isso em caos organizado.

Porém, cuidado: cada habilidade nova é como uma aposta num cassino medieval. Aposte certo, e você domina o campo de batalha; aposte errado, e você só vai ser mais um cadáver com uma espada reluzente.

Imagem: Reprodução/EA BioWare

E aí estão os companheiros. Eles são a sua banda de apoio: cada um com sua classe, seus talentos e aquela habilidade especial que te faz pensar: por que raios eu escolhi o outro no começo do jogo?

As missões pessoais deles são recheadas de drama e escolhas morais, que acabam influenciando suas habilidades. Um deles, por exemplo, virou uma máquina de DPS porque tomei uma decisão moralmente questionável. Foi errado? Talvez. Valeu a pena? Com certeza.

Exploração magnífica, mas com GPS embutido

Se o mundo do jogo fosse uma pessoa, seria aquele amigo que se veste bem, mas só sabe falar do trabalho. Os cenários são deslumbrantes — ruínas élficas, cavernas sombrias, campos vastos.

Tudo grita aventure-se!, até que você percebe que não há muito para explorar além do que o jogo permite. A linearidade das áreas corta um pouco o espírito de o que tem atrás daquela colina?, algo tão presente em jogos de outro gênero, como os soulslike mais recentes.

Imagem: Reprodução/EA BioWare

Ah, e os companheiros abrem caminhos como se fossem chaves mágicas ambulantes. Parece legal no início, mas logo você percebe que é só apertar um botão e esperar a animação para a história seguir. Nada de puzzles geniais ou desafios de exploração que te façam pensar. É como ser convidado para uma festa onde só servem gin com energético e água com gás.

Ainda assim, a diversidade visual é inegável. Existem momentos em que você tropeça em um artefato antigo ou uma ruína esquecida, e por um instante, sente o peso da história. Só que, antes de se envolver, alguém no grupo resolve te lembrar que os deuses élficos escaparam pela milésima vez.

O mundo de Veilguard é um quebra-cabeça: nem sempre desafiante, mas impossível de ignorar

Narrativa épica que sofre de Alzheimer

A história começa com força, como um soco direto no queixo, mas logo vira um daqueles filmes onde todo mundo explica tudo o tempo todo.

Solas, o vilão inicial, é rapidamente empurrado para os bastidores, enquanto os deuses élficos Elgannan e Gillain assumem o papel de antagonistas. Para fãs da lore, isso pode ser emocionante. Para o resto de nós, eles são vilões que fazem o trabalho, contudo não têm presença suficiente para nos fazer tremer.

E os diálogos? Ah, os diálogos. Eles são como quando alguém não sabe quando parar de repetir a mesma piada. Os deuses élficos escaparam. Sim, sabemos. Anões não sonham. Obrigado por nos lembrar de novo.

Parece que o jogo tem medo de que você não esteja prestando atenção, então insiste em explicar as mesmas coisas até que você comece a decorar e fixe para sempre na mente.

Reprodução/EA BioWare

E então temos os personagens. Eles não apenas falam como se estivessem num podcast de millennials, eles despejam seus traumas pessoais no meio do jogo. É como se cada linha de diálogo tivesse que lembrar o jogador que esses personagens têm sentimentos — muitos sentimentos.

Curiosamente, onde o jogo realmente brilha é nas missões pessoais dos companheiros. Aqui, os diálogos são mais naturais, emocionantes até. Os vilões dessas histórias têm mais impacto porque afetam diretamente os personagens que você aprendeu a gostar (ou pelo menos tolerar).

Se a história principal fosse tão bem escrita quanto essas missões secundárias, estaríamos falando de uma obra-prima.

O protagonista é um herói preso ao script

Rook, o protagonista, é um bom sujeito. Às vezes até demais. Não importa quantas vezes você escolha a resposta sarcástica ou a opção de ser um pouco mais duro, ele continua sendo o herói empático que carrega o mundo nas costas.

Se você esperava algo no estilo da franquia Mass Effect, onde suas escolhas moldam quem você é, pode se preparar para um leve desapontamento.

A única exceção são os diálogos baseados no histórico que você escolhe na criação do personagem. Jogar como Guardião Cinzento, por exemplo, adiciona falas únicas que dão um toque de personalização.

Mas, fora isso, a jornada de Rook é mais sobre aceitar seu papel de salvador do mundo do que se tornar alguém único. Como a gente já viu inúmeras vezes por aí.

Imagem: Reprodução/EA BioWare

Plano demais para um RPG de ação

As missões principais seguem uma fórmula previsível. Algo dá errado, a equipe se reúne, alguém dramatiza a dificuldade, e Rook inspira todo mundo a seguir em frente.

É funcional, mas tira a chance de explorar conflitos internos ou momentos de tensão entre os personagens. Imagine se eles brigassem mais, como em Mass Effect 2. Isso teria dado vida ao grupo.

Quando o humor aparece, ele salva o dia. Os momentos descontraídos — como uma luta em um bar ou piadas internas entre os companheiros — trazem a leveza necessária.

No entanto, a insistência em recapitular eventos e falar de artefatos (sempre artefatos) acaba desgastando o jogador.

As polêmicas pautas da audiência moderna

Você está seguindo a história e, de repente, um personagem diz : Coma a fruta antes que estrague. O outro responde: Prefiro biscoitos. Sim, é isso. Não estamos no drama épico de uma guerra de dragões — estamos numa festa infantil. Mas calma, o jogo tem mais. Muito mais.

Então o personagem precisa fazer escolhas, e o jogo faz questão de te lembrar disso. Escolheu ser positivo sobre multiculturalismo? Parabéns, você agora recebe uma notificação explicando que encorajou a diversidade. Isso faz sentido em um mundo de fantasia medieval? Quem sabe.

O problema real não é que o jogo aborda temas progressistas ou tenta incluir diversidade, que aqui é mais evidente que em Star Wars Outlaws — afinal, você escolhe ou não ter um personagem assim.

Mas não, o problema é que tudo soa às vezes forçado. É como um artista que esqueceu as falas e fica improvisando. Os temas são relevantes, no entanto são entregues com a sutileza de uma martelada.

Reprodução/EA BioWare

E então chegamos ao personagem não-binário. Eles dizem: Sou um humane, classe mague, não fique abalade. Isso, em teoria, para uma certa audiência é algo bem-vindo. Afinal, representatividade quando não tenta educar todo mundo, importa.

Mas no meio de uma trama sobre deuses élficos, guerra e magia, o diálogo soa deveras deslocado. É como se alguém tivesse colocado uma cena de terapia de casal em um filme de ação.

E sobre a personalização visual: esqueça as escolhas estéticas ousadas. Aqui, os personagens são padronizados, sem espaço para criar algo visualmente marcante. Mas espere, o jogo inclui representações de cirurgias de redesignação de gênero.

É um esforço legítimo de inclusão, entretanto a execução deixa tudo turvo, como se fosse mais uma tentativa de agradar um nicho do que de criar uma experiência coesa.

Os personagens não são amigos, são colegas de trabalho tentando não ser cancelados no almoço

Dragon Age sempre foi sobre escolhas, moralidade cinzenta, e a liberdade de ser um herói (ou vilão) à sua maneira. Só que, desta vez, parece que os desenvolvedores decidiram que ser mau é muito problemático. Nada de magia de sangue. Nada de decisões verdadeiramente sombrias.

O jogo quer que você seja um herói polido. Todo mundo quer? Provavelmente não.

Vale a pena jogar Dragon Age: The Veilguard?

No fim das contas, Dragon Age: The Veilguard é um jogo que te encanta tanto quanto te frustra. O combate é excepcional, as missões dos companheiros são emocionantes, e o mundo é visualmente rico. Mas os problemas de narrativa, exploração linear e um protagonista pouco moldável deixam um gosto agridoce.

Apesar disso, há sementes para algo grandioso aqui. Com os ajustes certos, uma sequência poderia alcançar o potencial que este jogo deixou escapar.

Enquanto isso, The Veilguard é um RPG que vale a pena experimentar, entretanto que te deixa com a sensação de que poderia ter sido muito mais.

Prós