REVIEW | Age of Mythology: Retold é um mito que precisava ser recontado

REVIEW | Age of Mythology: Retold é um mito que precisava ser recontado

Um grande clássico renovado

Primeiramente, é interessante traçar um paralelo entre Age of Empires e Age of Mythology. O primeiro sempre priorizou a experiência multiplayer, com um foco intenso no equilíbrio das mecânicas de jogo para proporcionar uma dinâmica mais competitiva e esportiva.

Por outro lado, Age of Mythology sempre se destacou por oferecer uma experiência mais voltada para o entretenimento e a exploração de um mundo repleto de fantasia, onde apenas vencer não é suficiente. Aqui, o objetivo é buscar a aprovação divina, almejando tornar-se um verdadeiro deus dominante. Essa é a essência do jogo.

Retold emerge com a magia dos mitos e a nostalgia de uma era dourada dos jogos RTS

Essa premissa está profundamente enraizada desde os primeiros passos, pois você utiliza essa aprovação para treinar um exército de criaturas míticas — de hidras a minotauros e ciclopes — preparando-se para batalhas épicas.

Além disso, não podemos esquecer dos famosos Poderes dos Deuses, que você pode lançar diretamente no campo de batalha, permitindo desde invocar um raio devastador, causar um terremoto mortal, ou até, por que não, transformar seus inimigos em porcos miseráveis.

E é exatamente aí que reside o charme do jogo.

Imagem: Divulgação/Microsoft

Terra de lendas, onde deuses, monstros e humanos colidem

Tenho certeza de que você já teve algum contato com diversas mitologias presentes em Age of Mythology: Retold, seja por meio de outros jogos, como God of War, ou por filmes, desenhos (como Cavaleiros do Zodíaco) e séries literárias, como Percy Jackson.

Dito isso, vou usar como exemplo a mitologia grega, que é a mais conhecida no Ocidente. No jogo, você pode escolher entre 12 deuses do Olimpo, sendo que o décimo terceiro está disponível como um DLC pago.

Estamos falando dos 12 grandes deuses, como Zeus, Hades, Cronos, Poseidon Cada deus escolhido oferece uma combinação única de deuses menores, que definem sua Árvore Tecnológica no jogo.

Por exemplo, se você optar por Zeus, precisará adorar deuses como Atena e Hermes, que concedem diferentes poderes e criaturas míticas para utilizar no jogo. Isso permite uma grande variedade de combinações e estratégias, algo bastante distinto de Age of Empires, especialmente do segundo título da série.

Um desafio complexo, entretanto ao alcance de todos

Essa diversidade tem seus prós e contras. Por um lado, é ótimo porque oferece muita variedade e incentiva o jogador a experimentar todas as combinações possíveis. Por outro lado, torna-se mais desafiador alcançar um equilíbrio, já que um deus frequentemente se destaca como muito superior aos outros.

Isso significa que a diferença entre as facções, pelo menos no estado atual do jogo, é bastante significativa. Assim, quem busca jogar de maneira competitiva online provavelmente se verá utilizando as mesmas combinações vencedoras repetidamente.

Talvez a Microsoft esteja ciente disso e trabalhando em ajustes para futuras atualizações. Quem sabe o jogo não faz tanto sucesso a ponto de vermos novas expansões? Eu, pessoalmente, acredito que estão no caminho certo.

Imagem: Divulgação/Microsoft

Estratégia à moda antiga, mas modernizada

Age of Mythology: Retold foi desenvolvido pensando tanto em PC quanto no Xbox, o que é um feito inédito para a série. Portanto, uma dúvida comum é sobre como seria a jogabilidade no console de mesa. Vou ser direto: embora nunca alcance o mesmo nível de conforto e agilidade de um mouse e teclado, o controle do Xbox funciona surpreendentemente bem.

Fiquei impressionado com a forma como eles conseguiram alcançar essa façanha. Então, se você pretende jogar (seja no PC ou no console) com um controle, pode ficar tranquilo. A experiência será positiva.

No aspecto visual, Retold também é genial. Já se passaram 10 anos desde que o jogo recebeu texturas em alta definição, e o progresso feito aqui é acima das expectativas, mantendo a essência do jogo original. E é importante destacar que já vimos tentativas fracassadas de remasterização por parte da concorrente Blizzard, como aconteceu com Warcraft 3: Reforged

Durante meus testes, o jogo rodou suavemente na maior parte do tempo, apresentando apenas pequenas quedas de quadros por segundo em momentos de grande ação, com muitos personagens e efeitos dos poderes dos deuses na tela.

Na campanha, as cenas em tempo real continuam a ser uma forma clássica de contar a história, sem recorrer a grandes filmes em CGI, como aqueles que vemos em jogos da Blizzard ou da Bungie, por exemplo.

Jornada grandiosa que se estende por eras

A campanha principal tem uma duração de 15 a 20 horas, dependendo do seu estilo de jogo. Se você é do tipo que gosta de maximizar a economia antes de avançar para a próxima missão, pode levar um pouco mais de tempo.

Age of Mythology Retold
Imagem: Divulgação/Microsoft

No total, são 44 missões, e já temos a confirmação de que a primeira expansão irá aumentar esse número com a adição dos deuses chineses. Portanto, considerando que o jogo está disponível no Game Pass, há bastante conteúdo para aproveitar.

E não é para menos — dificilmente a franquia Age decepciona em termos de conteúdo, oferecendo entretenimento por horas, dias, semanas e até meses. Além disso, ainda há o modo Multiplayer e o modo Escaramuça.

O modo Escaramuça, em particular, me trouxe alguns desafios, pois notei que a IA às vezes tem dificuldades para avançar para a segunda ou terceira era, não me atacando e nem construindo um exército digno, o que me obrigou a reiniciar as partidas.

Também é evidente que o jogo ainda precisa de alguns pequenos updates. Durante meus testes, encontrei alguns bugs menores, como unidades que não desaparecem ao morrer ou elementos da interface que mudam de aparência inesperadamente. No entanto, nada que comprometa seriamente a experiência.

O toque divino que ecoa no campo de batalha

As desenvolvedoras Worlds Edge e Forgotten Empires decidiram manter a jogabilidade fiel ao legado clássico dos jogos de estratégia em tempo real (RTS), com o qual você provavelmente já está bastante familiarizado.

Em termos práticos, isso significa que você coleta recursos, desenvolve sua base, cria e treina um exército, e ataca seus oponentes no momento mais oportuno para ganhar terreno e conquistar a vitória. Gerenciar seus recursos de forma equilibrada é crucial, e felizmente, isso se tornou mais acessível graças às melhorias na interface.

A HUD foi completamente refeita, agora incluindo um sistema de prioridade de coleta. Por exemplo, você pode optar por distribuir automaticamente seus trabalhadores entre os diferentes recursos, algo especialmente útil se estiver jogando com um controle em vez de um teclado e mouse.

Um convite irresistível e visualmente impressionante, mantendo a alma do original

Uma mudança muito interessante nesta versão é que agora os jogadores podem usar os poderes dos deuses várias vezes, e não apenas uma única vez. Isso resulta em um campo de batalha ainda mais caótico, especialmente em confrontos mais longos.

Outra consequência dessa mudança é a necessidade de, em diversos momentos, escolher entre usar esses poderes ou treinar criaturas míticas, já que ambas as ações consomem Aprovação, que pode ser acumulada nos templos através de orações.

Pois é, parece que é assim que a religião funciona aqui: quem reza mais intensamente recebe mais aprovação dos deuses. E como sabemos, os deuses gregos podem ser bastante cruéis nesse sentido.

Divulgação/Microsoft

Entre as novidades, foram adicionadas duas novas dificuldades, ou pelo menos, reformuladas. Na versão Extended Edition, as opções disponíveis eram: Fácil, Moderado, Difícil e Titã. Agora, em Retold, temos: Normal, Moderado, Difícil, Titã, Extremo e Lendário.

Outra adição interessante é a inclusão de um menu dedicado exclusivamente para Mods, acessível diretamente a partir do menu principal. Isso facilita muito a localização e instalação de mods para quem deseja personalizar sua experiência de jogo.

No entanto, nem tudo é perfeito. Age of Mythology: Retold chega com uma DLC gratuita que adiciona Frey, o deus nórdico da fertilidade e da realeza, o que é uma adição muito bem-vinda.

Por outro lado, a civilização chinesa foi removida do jogo, resultando na perda de uma parte do conteúdo. Embora essa civilização não fizesse parte da versão original do jogo, ela trouxe personagens interessantes que muitos jogadores apreciavam.

Vale a pena jogar Age of Mythology: Retold?

De maneira geral, Age of Mythology: Retold oferece um pacote recheado e bem polido, e me diverti bastante disputando várias partidas para escrever esta análise. Foi uma nostalgia positiva e não frustrante, como mencionei no início do texto.

Embora eu tenha concentrado meus esforços na campanha e no modo Escaramuça — já que durante o período de embargo havia poucos jogadores disponíveis para o modo online —, fiquei muito satisfeito com as pequenas evoluções apresentadas.

Os desenvolvedores, mais uma vez, fizeram um trabalho excepcional, que honra o legado do jogo clássico e das lendas mitológicas, trazendo-os para os dias atuais. Portanto, se você está interessado em um jogo de estratégia com uma abordagem diferente ou até um pouco saturado da temática de Age of Empires, Retold é uma excelente escolha.

Não acredito que você ficará desapontado. Se os próximos patches corrigirem os pequenos erros de interface e a expansão aumentar ainda mais a já excelente campanha, estaremos diante de um dos jogos favoritos que todo fã de RTS sempre sonhou.

Talvez seja necessário pedir uma ajudinha aos deuses para isso. Por fim, considerando que o jogo está disponível no Game Pass, eu diria que é praticamente obrigatório experimentá-lo se você tem alguma curiosidade, mesmo que não tenha muita experiência no gênero.

Prós